sábado, 18 de junho de 2016

SEIS HORAS DA TARDE E O ENCANTAMENTO DAS TUAS LUZES






Nasceu sem nenhuma história. Sem nenhum vestígio. Sem suspeita ou qualquer indicação. Nasceu como a água que nunca nasceu. Nasceu com um aperto no corpo muito antes de conhecer o abraço. Nasceu de um presságio do coração corroído de lamento do crepúsculo que brotou em teus olhos. Nasceu íngreme como a hélice de um beijo jamais entregue. Nasceu, explodiu em nossos peitos. Nos fez reféns de oceanos de insônia. De palavra de cobre. De alquimia das línguas. Da pele eriçada através dos olhos. Nasceu o nosso amor, sem intenção, sem pretensão, sem conforto, sem imaginação, sem discernimento, sem hipótese, como um milharal abandonado de ventanias, como um rebanho de folhas secas e ciscos de orgasmos, sem um toque, um arranhão na nuca, um dedo na camuflagem da alma. Nasceu o nosso amor, terrível como um mastro na tempestade, louco, divino, cego, monumental. Não sabemos o que fazer com tanto, com ele, com o que inventamos, com o que parimos. Eu te amo. E só.

Fernando Coelho

Ilustração poeta Lilly Araújo

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