Nasceu sem nenhuma história. Sem nenhum vestígio. Sem
suspeita ou qualquer indicação. Nasceu como a água que nunca nasceu. Nasceu com
um aperto no corpo muito antes de conhecer o abraço. Nasceu de um presságio do
coração corroído de lamento do crepúsculo que brotou em teus olhos. Nasceu
íngreme como a hélice de um beijo jamais entregue. Nasceu, explodiu em nossos
peitos. Nos fez reféns de oceanos de insônia. De palavra de cobre. De alquimia
das línguas. Da pele eriçada através dos olhos. Nasceu o nosso amor, sem
intenção, sem pretensão, sem conforto, sem imaginação, sem discernimento, sem
hipótese, como um milharal abandonado de ventanias, como um rebanho de folhas
secas e ciscos de orgasmos, sem um toque, um arranhão na nuca, um dedo na
camuflagem da alma. Nasceu o nosso amor, terrível como um mastro na tempestade,
louco, divino, cego, monumental. Não sabemos o que fazer com tanto, com ele,
com o que inventamos, com o que parimos. Eu te amo. E só.
Fernando Coelho
Ilustração poeta Lilly Araújo
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