terça-feira, 7 de junho de 2016

Eu seria







Eu seria

Se eu não tivesse corpo,
eu me contentaria em ser a tua sombra,
a sombra da fumaça do teu cigarro,
a sombra da sombra da luz do flash em disparo.
A penumbra da tua felicidade.

Se eu não tivesse corpo,
me contentaria em ser teu dia claro,
tua noite fria, ou o teu agasalho.
Eu me contentaria em ser as cócegas
por entre os teus dedos dos pés,
e o vão do teu sorriso desproposital.

Se eu não tivesse esse corpo,
essa embalagem pesada e fútil,
eu seria o ar ao teu redor diuturnamente,
eu seria a tua lágrima expurgando tua dor,
eu seria teus gemidos de amor.

— Mas para que querer ser tanta coisa?
Eu só sou isto aqui que vejo:
um corpo esquecido na sarjeta do desejo,
um corpo seco, desumidificado pelos desacertos,
desencontros, descaminhos,
despalavras, precipícios, e o infinito...

Lilly Araújo – 07/06/16
12:39h

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