A carne de Rosa era dura!
Eu sentia quando brincava de mordê-la.
Era uma carne meio diferente,
e alguns diziam que nem era de gente.
Rosa, até no jeito de andar se destacava,
e uma bunda obtusa que balançava.
Ah, Rosa! Eu me recordo muito claro
das vezes em perdia uma pétala no caminho,
entre a sua casa e o trabalho.
Mas a carne de Rosa era dura!
Ela tinha um olhar duro também.
Umas mãos duras, e dedos duros.
como quem sonha com algo muito distante.
Mas o olhar de Rosa era macio
quando me esfregava com sabão,
e a fala dela ficava entre dura e zombeteira,
quando me mandava esfregar atrás da orelha.
— Seu encardido! — dizia, me dando um gostoso sermão.
Seus dentes eram tão brancos,
mais brancos que próprio branco,
quando ela sorria enquanto me enxaguava.
E das poucas vezes em que isso acontecia,
podia mesmo jurar que ela nem era gente,
igual ao que muita gente falava.
Foi na ladeira entre a rua quarta,
que eu vi Rosa como ela era,
(Rosa não era mesmo gente!).
ninguém sabia ao certo de onde vinha.
Agora tinha era pavor nos olhos de Rosa,
e eu, que era muito jovem para entender,
só ouvia sua prece citar nomes desconhecidos.
“Obá, Ogum e Oxossi” — Gritava.
— Salva-nos, oh, deus da guerra!
Enquanto o medo ia virando terror,
acho que ouvi-a clamar por um tal de Xangô.
Nunca vim a saber depois,
tem medo dos ‘deuses dos pretos’.
E eu jamais pude entendê-los.
Mas a carne de Rosa era dura!
Dura dura dura, que nem um couro de javali
que o meu pai costumava citar em suas caçadas.
E sua mão, que era preta,
preta preta que nem breu,
puxou minha carninha branca
para dentro do seu abraço
e tremendo toda se encolheu.
A carne dura de Rosa parou todas as balas,
e de dentro dela, nascia pela segunda vez,