sábado, 21 de maio de 2016

Vitrine



 

Vitrine

Então, olhem e me admirem,
e me aplaudam, e me endeusem,
e me desejem ou me critiquem,
me desaprovem, e me cuspam, me apedrejem.
Estou sempre na vitrine.

Aqui, exposta, e nua,
sem outra opção, voltada para rua,
aos que passam displicentes
e com pressa, aos que param,
aos que nunca me enxergam,
e aos que julgam me conhecer.

Eu estou aqui, na vitrine,
sem outra opção qualquer,
e nem sei mais se sou mulher.
Eu sou vitrine!

Eu sou vitrine quando choro,
e quando minhas lágrimas cristalinas
como eu, me denunciam a dor do amor,
da saudade, do desejo da reprise.

Eu sou vitrine!
Sem tapumes, sem censura.
Estou de cara para vida,
essa cara deslavada e pura.
Louca e imprudente,
porque não é assim que se deve
se expor à toda a gente.

Mas eu não sou como os outros,
eu nem sequer sou gente,
eu sou apenas vitrine.

— Você me vê?

Lilly Araújo- 21/05/16

(17:34h)

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