domingo, 22 de maio de 2016

Um círculo vicioso




Um círculo vicioso

O amor se desfez como estrelas derretidas, e escorreu para os esgotos, os ratos raivosos pararam de brigar quando dele beberam, dissolvido na água pútrida. Os insetos asquerosos e tão repugnantes ficaram belos no mesmo instante, e começaram a bailar numa festa em volta da fogueira sob a luz do luar.

Holly e Gibson, os dois crocodilos que vivem por essas bandas, fizeram enfim as pazes, e se esqueceram da última demanda pelo feto abortado que desceu até ali junto ao derradeiro sinal da dignidade humana.

O amor se derreteu em forma de cachoeiras lácteas, bem ali no meio da rua, visto a olho nu, por todos que passaram. O amor estava na vitrine, e nunca se escondia.

O amor se fluidificou tantas vezes, que aprendeu que essa era sua melhor forma. Ele é o cheiro de coito, e as paredes desmoronando da vagina liquefeita de uma vez por todas.

O amor mais puro e cristalino derramou-se em forma de lágrimas de anjos, que invejavam a capacidade de chorar dos homens, a eles negada, e, enfim, descobriram como fazê-lo: derretendo estrelas polares.

Esse amor me tocou. [Não se deve jamais beber este tipo de coisa!] Agora, que ingeri o último gole da taça, sem arrependimentos ou ponderação alguma, eu não restei mais nada de mim. Eu apenas sou!

O amor começou a evaporar-se, e o cheiro solto no ar é o cheiro do orgasmo das almas que estão presas no limbo, e das que se congelam no inferno de Niflheim; e das que estão nos subníveis, todas igualmente atormentadas, dos círculos de Dante; e das que vagam perdidas porque não tiveram as duas moedas do barqueiro.

O amor se condensou sob a forma de nuvem cúmulo-nimbo, e desceu em tempestades de raios verdes, despejando-se sob a face da terra em forma de chuva de sêmen. A terra bebeu e sorveu dessa chuva, e começou a produzir os seus frutos acre-doces e aromáticos, como torta de cereja da vovó esfriando na janela, ou bolo de mel, maçã e canela, dessas que sempre atraem os ursos da redondeza.

O amor estava se insinuando no ar, e foi aspirado em forma da fragrância mais desejada do universo, e fundiu-se nos pulmões, e alvéolos, em trocas gasosas rítmicas. Foi açoitado e bombeado por ventrículos e aurículas, por veias e cavas e artérias. O amor virou o sangue, a vida e o oxigênio. Ele desceu até o mais humilde das partes do corpo: os joelhos; e continuou até tocar enfim os pés. Depois subiu ao topo, em forma de ondas alfas, e nas sinapses nervosas e mágicas, confundiu o arrogante cérebro, deixando-o mais terno.

O amor bombeou tão forte e fervente em doses tão assustadoras no peito de seu ocupante, que medido escala de Fahrenheit, estourou o termômetro, e é certo então, que o corpo não suportou e se expandiu.

Rompido o pobre corpo, o amor contido no sangue escorreu como a lava efervescente ejacula do topo da montanha e desce lambendo a terra, fazendo-a rubra e de céu cinzento.

E este amor alcançou novamente a ‘boca de lobo’ até ao encontro do esgoto.

O amor é um círculo vicioso!


Lilly Araújo-22/05/2016
(08:00h)


[Versão Revisada-10/09/17]

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