Um círculo vicioso
O amor se
desfez como estrelas derretidas, e escorreu para os esgotos, os ratos raivosos
pararam de brigar quando dele beberam, dissolvido na água pútrida. Os insetos
asquerosos e tão repugnantes ficaram belos no mesmo instante, e começaram a
bailar numa festa em volta da fogueira sob a luz do luar.
Holly e
Gibson, os dois crocodilos que vivem por essas bandas, fizeram enfim as pazes,
e se esqueceram da última demanda pelo feto abortado que desceu até ali junto
ao derradeiro sinal da dignidade humana.
O amor se
derreteu em forma de cachoeiras lácteas, bem ali no meio da rua, visto a olho
nu, por todos que passaram. O amor estava na vitrine, e nunca se escondia.
O amor se fluidificou
tantas vezes, que aprendeu que essa era sua melhor forma. Ele é o cheiro de
coito, e as paredes desmoronando da vagina liquefeita de uma vez por todas.
O amor mais
puro e cristalino derramou-se em forma de lágrimas de anjos, que invejavam a
capacidade de chorar dos homens, a eles negada, e, enfim, descobriram como
fazê-lo: derretendo estrelas polares.
Esse amor me
tocou. [Não se deve jamais beber este tipo de coisa!] Agora, que ingeri o
último gole da taça, sem arrependimentos ou ponderação alguma, eu não restei
mais nada de mim. Eu apenas sou!
O amor
começou a evaporar-se, e o cheiro solto no ar é o cheiro do orgasmo das almas
que estão presas no limbo, e das que se congelam no inferno de Niflheim; e das
que estão nos subníveis, todas igualmente atormentadas, dos círculos de Dante;
e das que vagam perdidas porque não tiveram as duas moedas do barqueiro.
O amor se
condensou sob a forma de nuvem cúmulo-nimbo, e desceu em tempestades de raios
verdes, despejando-se sob a face da terra em forma de chuva de sêmen. A terra
bebeu e sorveu dessa chuva, e começou a produzir os seus frutos acre-doces e
aromáticos, como torta de cereja da vovó esfriando na janela, ou bolo de mel,
maçã e canela, dessas que sempre atraem os ursos da redondeza.
O amor
estava se insinuando no ar, e foi aspirado em forma da fragrância mais desejada
do universo, e fundiu-se nos pulmões, e alvéolos, em trocas gasosas rítmicas.
Foi açoitado e bombeado por ventrículos e aurículas, por veias e cavas e
artérias. O amor virou o sangue, a vida e o oxigênio. Ele desceu até o mais
humilde das partes do corpo: os joelhos; e continuou até tocar enfim os pés.
Depois subiu ao topo, em forma de ondas alfas, e nas sinapses nervosas e
mágicas, confundiu o arrogante cérebro, deixando-o mais terno.
O amor
bombeou tão forte e fervente em doses tão assustadoras no peito de seu ocupante,
que medido escala de Fahrenheit, estourou o termômetro, e é certo então, que o
corpo não suportou e se expandiu.
Rompido o
pobre corpo, o amor contido no sangue escorreu como a lava efervescente ejacula
do topo da montanha e desce lambendo a terra, fazendo-a rubra e de céu
cinzento.
E este amor
alcançou novamente a ‘boca de lobo’ até ao encontro do esgoto.
O amor é um
círculo vicioso!
Lilly
Araújo-22/05/2016
(08:00h)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por vir até aqui e ainda deixar sua opinião.Bjos!