Noturna
Agora, estava tudo silencioso!
Não teria que suportar mais o zumbido da tv, nem as conversas
tediosas alheias, ou o bater de panelas às suas costas. Enfim, o mundo todo
parecia dormir (quase todo!).
Os grunhidos eram aqueles familiares aos seus hábitos
noturnos: roncos, hélice de ventilador e percepção aguçada dos motores de
geladeiras e freezers...
Já podia ser o que mais gostava: — Ser ela mesma, brincando
de faz-de-conta!
Na mente, nada mais saltava tão claro como aquela única vez
nos braços dele. Iria saborear cada lembrança, entre goles de lascívia e
prazer. Renovar aos ouvidos os sons tímidos e murmurantes do durante. Sorrir de
si mesma ao relembrar o embaraço mútuo, que se somava às mãos trêmulas de ambos
que se desencontravam, procurando pouso um no outro, mas sem ter certeza de
onde, quando tudo começou...
Supôs que era o momento propício, e que nessa calmaria
ambiente, nada ficaria entrecortando suas lembranças, já meio anuviadas pelo
tempo transcorrido desde então.
Ela se esforçou para sentir o cheiro de pele suada de ambos
a embolar-se entre os lençóis, mas foi em vão. Passou a tentar sentir o calor
que aquela mão máscula transmitiu ao se entrelaçar à sua pela primeira vez, em
vão! Lembrou-se das curvas de cada gomo de seu corpo muito bem torneado, e
quase conseguiu sentir a textura de seus músculos rijos, mas foi apenas quase!
O que restava de palpável era apenas cenas embaralhadas e
nada fidedignas do que se passou naquele dia.
Restava ainda o papel e a caneta, e toda madrugada adentro.
Noturna que era, pôs-se a escrever.
# Lilly Araújo 08/10/15
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