quinta-feira, 21 de abril de 2016

Noturna




















Noturna

Agora, estava tudo silencioso!
Não teria que suportar mais o zumbido da tv, nem as conversas tediosas alheias, ou o bater de panelas às suas costas. Enfim, o mundo todo parecia dormir (quase todo!).
Os grunhidos eram aqueles familiares aos seus hábitos noturnos: roncos, hélice de ventilador e percepção aguçada dos motores de geladeiras e freezers...
Já podia ser o que mais gostava: — Ser ela mesma, brincando de faz-de-conta!
Na mente, nada mais saltava tão claro como aquela única vez nos braços dele. Iria saborear cada lembrança, entre goles de lascívia e prazer. Renovar aos ouvidos os sons tímidos e murmurantes do durante. Sorrir de si mesma ao relembrar o embaraço mútuo, que se somava às mãos trêmulas de ambos que se desencontravam, procurando pouso um no outro, mas sem ter certeza de onde, quando tudo começou...
Supôs que era o momento propício, e que nessa calmaria ambiente, nada ficaria entrecortando suas lembranças, já meio anuviadas pelo tempo transcorrido desde então.
Ela se esforçou para sentir o cheiro de pele suada de ambos a embolar-se entre os lençóis, mas foi em vão. Passou a tentar sentir o calor que aquela mão máscula transmitiu ao se entrelaçar à sua pela primeira vez, em vão! Lembrou-se das curvas de cada gomo de seu corpo muito bem torneado, e quase conseguiu sentir a textura de seus músculos rijos, mas foi apenas quase!
O que restava de palpável era apenas cenas embaralhadas e nada fidedignas do que se passou naquele dia.
Restava ainda o papel e a caneta, e toda madrugada adentro.
Noturna que era, pôs-se a escrever.

# Lilly Araújo 08/10/15


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