domingo, 3 de julho de 2016

Faces de mim - Parte II

 
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Faces de mim - Parte II

Na rosa não sou a pétala,
eu sou espinho.
Do beija-flor
eu sou o medo,
não sou o ninho.

Ninguém me sabe.
Eu sou a tempestade,
doce ou amarga,
e o tsunami.

Eu sou o vulcão. Eu sou o vulcão.

Eu sou lava e entranhas,
e labaredas, e rochas flamejantes.
Não sou mulher,
eu sou um troço que ruge.

Eu sou instante. E já passei.

Eu não sou pedaço e nem metade,
eu sou o que sobra,
as migalhas que caem da boca
desajeitada do glutão ensandecido.

No silêncio da noite
eu sou o apito.
O estalido,
a goteira que não para,
a porta que range.

Eu sou a dor do estômago do insone.
A acidez descontrolada,
a luz que não se apaga,
os olhos que não fecham,
os dedos que não cessam.

Eu sou a alma. Eu sou a alma.

Nos sonhos, eu sou pesadelo.
Sou também a falta de sonho,
o nada, o vácuo,
a tristeza do vazio.
Não sou terra firme.

Eu sou o rio. Eu sou o rio.

No leito eu sou a pedra pontiaguda,
que entra nos pés do descalçado.
Eu sou a ferida, sou o sangue,
e sou a dor.

Eu sou os olhos empapuçados,
inchados do estupor.
Sou o pedinte de amor.

Eu sou areia no olho,
e o sal na água do sedento.
Não sou rebento.
Do dente-de-leão, eu sou vento.

Estou ventando. Estou ventado!

Na fábrica eu sou a greve,
sou a descrença,
a mão que não quer se mover,
a marmita,
que se esqueceram de aquecer.

Sob os pés do trabalhador,
sou o andaime que balança.
Eu sou a dança.

Sou a sapatilha de ponteira
que aperta os pés da bailarina,
Eu sou o torturador
e a futura joanetes.

Eu sou o asco. Eu sou o nojo!

E amanhã eu não sou nada disso,
na minha metamorfose,
— eu sou o riso!

Lilly Araújo
18/05/16
(04:08h)
 

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