sábado, 9 de julho de 2016

Entrevista de Lilly Araújo para o jornalista Fernando Coelho.



Uma poeta de vigor. Porque consegue um diálogo extremo com a sua solidão. Permite-se invadir pelo frio tenso da alma quando as paredes desabam, e permanece apenas ela, a mulher escritora, e a proteção da poesia. Como ela diz, “considera-se poeta não por vontade, mas por obrigação de ser o que é”.
Melhor deixar que ela mesma diga do que é feita, como faz e o que ama fazer.

(FERNANDO COELHO)




Reli o livro Magma. De minha dileta amiga, poeta Olga Savary, a maior tradutora brasileira de Pablo Neruda. Olga também traduziu o monumental Confesso que Vivi do poeta chileno. Em alguns momentos, você me reconduziu a poemas de Olga. De onde vem o som do seu coração?

Acredito que o poeta não se sabe definir. Pelo menos eu não sei. Pelas minhas lembranças, eu já nasci assim, com um som atormentando meu peito desde muito nova.  Eu sempre me preocupei com questões que eram alheias às demais crianças e sempre fui excessivamente sensível.

Sofria com ansiedades crônicas dignas de adultos, com direito a febres emocionais e uma cobrança exacerbada de todos meus atos e produções, auto imposta. Sempre levei a vida muito a sério. A sério demais para meu gosto. Acho que envelheci cedo.

Por outro lado também vivia muito compenetrada nas mínimas sutilezas e delicadezas do meio ambiente, coisas que os adultos se esquecem rapidamente, assim que deixam de ser crianças.

Amo tudo! Coelhos, cães, gatos, morcegos, aranhas, cobras, borboletas (mesmo em fase de lagartas), lagartixas, plantas, rios... amo particularmente água, com uma conexão inexplicável e terna.

Então, eu penso que nasci poeta, bióloga e criança-adulta; e hoje sou uma adulta-criança-velha. Porque essas sutilezas, que só os pequenos sabem enxergar ainda estão impregnadas em mim como se quase nada tivesse se desgastado durante o passar dos anos. E ao mesmo tempo tenho uma alma velha. — O poeta já nasce com a alma antiga —, não é isso que dizem?

Sou uma antítese e também uma metamorfose ambulante. Acho que a biologia me definiria como um ‘híbrido’. Mas sei que não sou o único ser assim, creio que é coisa da ‘espécie’, somos assim mesmo, nós os poetas.

Deve ser desse barulho todo aí que vem o Som Do Coração.

A sua poesia parece-me uma represa. A represar vida e morte. E, ao mesmo tempo, um átomo de desespero solto. Que emoção é esta? A represa, fechada e em ebulição, e o átomo, são convergentes em sua poesia?

Tudo isso que você falou luta dentro de mim, Fernando. Sinto que você definiu melhor que eu poderia.

Represa, átomo, tsunami, maresias, pousar de asas de borboletas, cheiro de terra molhada de orvalho e café fumegante... Barulho de chuva, canção de estrelas, perfume de couve esmagada nos dentes da minha criação de coelhos...

Tudo me toca. Tudo me dói. Tudo me alegra e me faz querer chorar.

Tem um caos no meu interior. Longe de querer me comparar ao grande Fernando Pessoa, mas me pego sendo várias ‘eus’ o tempo todo. Não sei se isso é bom ou ruim, ou se é necessário classificar. Nós humanos, principalmente os biólogos, temos mania de querer classificar tudo, catalogar sistematicamente e dividir a vida em ‘caixinhas’. Bom, eu não acho que eu me encaixe em nenhuma dessas. Apenas sou isto.


É de sentir que as emoções, como trigo, fermentam os seus dias. Como realiza a sua poesia, profundamente carregada de cismas e dúvidas? É próprio do poeta viver em dúvida?

Minhas poesias são totalmente carregadas de cismas e dúvidas. É meu momento de visitar o confessionário. Desabo sobre elas os segredos que nem mesmo eu sei, aqueles guardados no subconsciente e até mesmo no mais profundo do inconsciente. As ideias e as figuras mais descabidas vão jorrando como um rio, e eu vou digitando até que estanque a sangria da minha alma. Assim, de bate e pronto elas nascem.

Ao mesmo tempo em que prestam o papel de diário pessoal, não são autobiográficas; às vezes até são; às vezes, falam de mim misturado a outras ‘gentes’; e às vezes, só falam de minhas impressões do mundo ao meu redor.

Escrevo desde os meus quatorze anos, e sempre foi assim. Nunca estudei as métricas e regras de construções de poemas, ou li os poemas de outrem, exceto os de J. G. de Araújo Jorge, que encontrei meio que por acaso numa biblioteca um dia, e que me intrigou muito pelo seu jeito, digamos que, mais ‘popular’, de escrever. Mesmo assim, ele é um poeta cujas obras são difíceis de achar, e só muito mais tarde encontrei alguns de seus livros em grandes sebos. Ademais, passei a vida toda fugindo de ler poesias com medo de me ‘contaminar’; por exemplo, a bem pouco tempo escrevi os seguinte versos: Faço amor com as palavras/ Gozo com a alma/O corpo me denuncia. Para poucos dias depois encontrar a seguinte frase, ao ler Rubem Alves: “Ler é fazer amor com as palavras”.
Senti aliviada ao saber que, seja qual for a repetição, eu não o estava plagiando, e isso me basta. Acredito que seja mais uma dessas energias sutis do inconsciente coletivo. Mas de qualquer forma, de um tempinho para cá, com medos ou não, venho sentindo que esse ciclo de isolamento chegou ao seu fim, estou agora no caminho oposto, lendo todos os poetas e escritores, principalmente os nacionais, e pesquisando tudo que posso.
Ainda escrevo como quem sangra no papel, e não dá para ficar contando versos e catando rimas nessas horas. Talvez eu mude de estilo no futuro, talvez não.

Você é bióloga por formação. Tem outro poeta, desatinado, biólogo por natureza. Manoel de Barros era dos bichos e plantas. Você, amiúde, está cercada de animais e os acarinha. O que este contato íntimo com a criação e as criaturas colocam dentro de sua literatura?

Não conheço quase nada de Manoel de Barros e dos demais poetas, como eu disse anteriormente, ainda estou engatinhando no empenho de conhecê-los.

A natureza é tudo para mim e eu sinto que estou em falta com ela, pois apesar de fazer parte de um belo projeto em minha cidade intitulado “SOS TERRA-Arte em prol da Ecologia”, onde levamos música, teatro e poesia, e palestra ecológica para escolas; eu quase não tenho nenhum poema escrito especificamente para este; nem para a idade do público alvo, que é ensino fundamental; muito menos de cunho ecológico. Como bióloga isso é meio vergonhoso, mas é eu só escrevo o que me pulsa, e não sobre encomenda.

Ainda pretendo escrever sobre meio ambiente. Na verdade, tenho duas poesias infantis que estão inéditas ainda, essas sim, são sobre plantas e bichos, num ambiente bem lúdico. Pretendo que sejam, em um futuro próximo, dois livros ilustrados. Particularmente achei-as bem gostosinhas para a garotada. Fiz as duas no mesmo dia, de uma tacada só, como o costume do meu processo de criação, e depois nunca mais me veio inspirações semelhantes;

O seu olhar sobre o mundo mostra alguma crueldade com você mesma? Acha que o sentido humano vai melhorar? Ou a violência vai exterminar o nosso espírito vital?

Você, Fernando Coelho, é um poeta que tem me influenciado bastante por causa do seu mote que é o amor, e é também o meu. Para mim tudo gira em torno do amor e suas diversas faces.

Mas infelizmente, o que se percebe, é que eu e você fazemos parte da exceção, e do pequeno grupo dos que não acham que o amor é piegas, ou coisa démodé. E a meu ver o mundo caminha rapidamente para a desumanização, convergindo para uma frieza e egocentrismo muito acentuado.

Vejo com tristeza, que o futuro não é um mundo onde eu gostaria de morar, pelo contrário, me identifico muito mais com o jeito de viver de séculos passados, talvez no período do Romantismo, ou mesmo do Ultrarromantismo, que explicitam o meu jeito de sentir.

De igual forma, o desgaste e desrespeito ultrajante ao nosso Meio Ambiente também me mostra que o futuro não será um lugar mais bonito do que o ontem. Apesar de não querer ser uma pessoa pessimista, e não o sou, esses são fatos previsíveis, ou mesmo visíveis.

O amor é fundamental? O amor é sofrimento? O amor é tudo? Em sua alma e em seu cotidiano, como convive com o amor?

O amor é, sem dúvida, fundamental! Tire-me ele e não sobrarei.

O sofrimento e o amor também são duas coisas que não consigo ver dissociados. Quem ama sofre, quem tenta não amar sofre o pior dos males, em minha opinião. O ser humano foi criado em amor e para amar. O amor salva e cura.

O amor é tudo!

Canto sobre o amor desde sempre; na minha criancice; na minha pieguice; em minhas ridicularidades; eu não me importo mais de ser ridícula. E eu o exalto consciente de que sobre ele  nada sei. Esse sentimento é amplo demais, para que uma simples mortal como eu pense saber defini-lo ou vivê-lo em sua totalidade.

O que eu faço é ir tateando em busca dele, implorando por encontrá-lo em uma curva dessas da vida; sonhando em vislumbrar uma partícula que seja da luz que só ele pode fornecer.

E só! (rssss)

Lilly Araújo é bióloga por formação acadêmica, mas escreve poemas desde os quatorze anos como expressão de sua alma. Só adentrou no círculo literário a partir do ano de 2011, tendo de lá para cá participado de algumas antologias e classificando-se em alguns concursos, nas modalidades poesia, contos e crônicas.
Considera-se poeta não por vontade, mas por obrigação de ser o que é.
Em 2014 foi agraciada com o título de “Imortal”, empossando a cadeira n. 27, da Academia de Letras do Brasil-seccional Anápolis.
Em 2015 inscreveu-se na ULA (União Literária de Anápolis).
Em 29 de Junho de 2016 lançou seu primeiro livro de poema intitulado Som Do Coração.

•Venda virtual pelos contatos:

lillyaraujo13@gmail.com
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Leia a entrevista no site do jornalista/poeta: Fernando Coelho

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