SOLIDÃO,
O VERBO DA POESIA
H. D. Thoreau jamais apiedou-se das gentes em sua
opcional solidão às margens do rio Walden: “é uma noite deliciosa, em que o
corpo todo é um sentido só e absorve prazer por todos os poros”. Abarrotado de
impetuosa solidão em seus naufrágios, lacerava a sociedade com sua premonição
implacável. Mergulhando no rio extenso de solicitudes de Lilly Araújo, invado a
minha própria e perecível ilusão de tentar compreender a poesia, para além de
Octavio Paz. Terrível, à semelhança de uma adaga de emoção golpeando o peito, a
poesia de Lilly Araújo sobrepõe-se às feridas da alma e, ela mesma,
encarrega-se de nada curar, além de provocar, e assumir, na boca do vulcão do
dizer e sentir ou sentir e viver, a inaudível missão da poesia: emanar sentença
certeira que sai, vergada, da flecha do coração. E volta, ao mesmo ponto,
tingida do sangue dos olhos dos outros, de cada um. O poema é um raio de amor.
A poesia de Lilly Araújo, amanhecida, anoitecida, disfarçada de encantamentos,
desaba, como tempestade de indubitável temeridade e beleza, na alma de quem
procura ouvir a voz de uma solidão que pertence ao mundo todo. Esta, uma poeta
que mexe, no fundo das estrelas, com o bruxo sentimento do amor, desviado,
transviado, enlouquecido, desbravador e terrível, mas humano, necessário,
apaixonante, desbocado em sua maneira de tocar e doar-se. Esta poeta, nascida
dela mesma, ou quase de tudo o que vê e cheira, traz no colo a transfusão vital
do expor e escrever poesia: viver, à exaustão, o amor, o relacionar-se com o
tempo, com o cotidiano, com a natureza, a partir de uma simples xícara de café
quente. Lilly e o amor e a poesia, comem-se numa intimidade perigosa,
devastadora para quem deles se aproxima por acaso. E dela, para sempre, ficará
refém.
http://www.fernandocoelhoescritor.com.br/poesias/lilly-araujo-a-terrivel-adolescencia-do-amor/
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