terça-feira, 6 de julho de 2010

Minha Vovó Partiu.


Neste dia 05/07/2010, uma segunda-feira minha querida avó materna deixou este mundo e passou para o lado da eternidade. Um mundo tão temido! O mundo pós-morte.


Uma intervenção cirúrgica que seria simples e evitaria que um coágulo lhe causasse um derrame, acabou sendo mal sucedida, e deixando-a assim com parte do corpo paralisado. Começava uma corrida contra morte que ainda iria se desenrolar por um longo período.

Após um tempo na UTI, ela foi para um quarto comum, mas ainda entubada e com sonda. Cena muito triste de se ver! Depois, já em casa, continuaria o sofrimento que ela insistia em enfrentar sempre com bom humor e sem reclamar nunca (isso intrigava a todos que viam).

Estava condenada a uma vida presa em uma cama. Começava assim a jornada de fisioterapias, fraldas geriátricas, medicação intensa, colchão especial para evitar a escaras, (que são feridas que acometem pessoas acamadas que não recebem cuidados adequados), comidas administradas por terceiros, assim como o banho ou qualquer locomoção por mínima que fosse. Mas ainda via em seus olhos a paz que excede qualquer entendimento, como se ela já estivesse na morada dos anjos.

Ela seguiu assim a sua jornada. Sem nunca abandonar a cruz. E quase três anos se passaram...

Até que um dia ela teve uma piora, e foi internada novamente. Seriam mais três meses de espera pela morte que ela insistia tanto em driblar. Ela aprendeu a fugir da morte há muitos anos atrás. Ainda me lembro como hoje, quando era ainda muito criança, tinha entre cinco e seis anos, e várias vezes minha mãe me preparava o espírito antes que chegássemos à casa de vovó. Mal sabiam os filhos e netos, que para a nossa alegria, ela ainda duraria mais vinte e cinco anos, pois depois de se tornar cristã ficou consideravelmente saudável, até o último acontecido.

Nos últimos três meses de UTI, vovó teve de quase tudo: pneumonia; outro derrame; falência dos rins, que a levou a sessões hemodiálise, feridas pelo corpo, além do diabetes e pressão alta que ela já tinha; e por último, outra hemorragia interna, até que finalmente a vida deixou seu corpo quase que apodrecido.

Velhinha obstinada minha vó, que se recusava a morrer.

Lembro de ter pedido sinceramente a Deus que a tomasse para Si, no domingo anterior à sua morte, logo depois de minha mãe passar em minha casa chorando pelo estado tão grave de sua mãezinha.

Quando meu telefone tocou na manhã de segunda, e me deram a notícia de seu falecimento, me veio um sentimento avesso ao de uma perda como essa, então, ao invés de chorar, eu dei um suspiro de alívio e tive uma estranha satisfação. Ela estava como o Pai!

Recusei-me a contemplá-la no caixão. Segui seu rápido velório apenas a certa distância, enquanto todos relatavam que seu estado era irreconhecível devido ao inchaço. Guardei para mim as lembranças de quando ela ainda vivia entre nós.

Recusei-me a chorar até o fim de tudo. Deixei o choro para os outros que eu tentava consolar. Minha vovó foi para onde eu mesma gostaria de estar, pude sentir com todos meus ossos, a paz de entregá-la ao Criador.

Estou feliz! E ao certo estão comentando sobre a neta que não chorou no velório da avó. Mas ela me deixou lições grandes demais para que eu me esquecesse naquela hora. Creio que naquele momento aquela paz que residia tão fortemente dentro dela tenha me envolvido e eu sorri diante de sua vitória até sobre morte.

Vá em paz querida vózinha. Eu não vou chorar sua morte. Vou sorrir, porque foi muito bom enquanto durou, e daqui a pouco a gente se encontra.





“Porque a morte para aqueles que estão em Cristo é apenas o começo” (Fé Cristã)




5 comentários:

  1. Gostei do seu texto. Da minha avó só tenho uma lembrança: eu era muito pequeno, tinha uns cinco ou seis anos; ela estava no nosso quintal, agachada, fumando um cachimbo. Não lembro de ter ouvido alguma coisa dela... Era alagoana, matuta, calejada... não há gente frágil entre os que descendem dela.

    Voltou para a terra dela. Anos depois, quando já tinha chegado aos noventa (sem abandonar o cachimbo), faleceu. Eu tinha uma prova no dia. E fui bem na prova. Será que não tenho coração?...

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  2. Sinto muito querida.... espero que além de boas lembranças, vc guarde uma doce saldade, daquelas boas de se lembras ao fim da tarde. Fique com Deus... beijo

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  3. Oi Lili... Meus sentimentos a sua perda amiga. Seu como são esses processos de perda. Achei seu texto lindo...

    Beijo!!!
    Paulinha Batera...

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  4. Eu amo tods vcs FAMILIA!!!
    Minha vó esta onde eu estarei daqui alguns anos!

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  5. Eu também não chorei quando a minha avó faleceu, já acamada também, mas acho que foi de velhice, pois me lembro muito bem que a vi e senti suspirar e esmorecer lentamente como um passarinho. Depois de tudo passado, é que eu sentia falta e chorava as saudades que me vinham em lembranças. Eu a amava profundamente porque ela me criou desde os cinco anos de idade, depois que eu fiz uma arte na casa da minha mãe e o meu pai me deu uma surra leve, mas fiquei revoltado e fugi para a sua casa que ficava próxima da nossa. Só voltei para morarmos todos juntos (a família inteira) depois de 14 anos. Mas o choro que não sai, não é por falta de amor ou a amostra da sua tristeza, mas talvez porque o seu interior não esteja aceitando a situação mesmo que estejamos vendo e participando de tudo. Eu a amava muito e lembrarei do cheiro do seu perfume natural sempre. Abraços!

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