terça-feira, 8 de agosto de 2017

Proposta indecente


Esses dias estava passando “Jurassic Park”, e me lembrei de uma ‘máxima’ que ouvi no filme e me marcou: — A vida sempre encontra um jeito! — disse um dos cientistas, em contraponto a que o fundador do parque afirma em estar no controle por ter ‘produzido’ apenas dinossauros de um dos sexos (fêmeas, se não me falha a memória), para evitar assim que se proliferassem indiscriminadamente.

Hoje, essa frase verdadeiramente me irrita, porque eu penso que na morte temos um ponto intransponível de dúvidas eternas, uma barreira que se interpõe sem que tenhamos qualquer escolha entre ir ou ficar, é um rasgo abismal entre os que morrem e os que vivem, e que nunca é recebido de bom grado. E há sempre a dor, e a inconformação e o luto. Nós, o que ficamos, passamos de lágrimas a porquês, sem aviso prévio e nem respostas que amenizem o sofrer.

O que mais tem me indignado no presente momento, é pensar que, passado algum tempo, quando a ferida ainda está viva, e enquanto ainda posso chorar e me entristecer sem ser censurada, a vida vai exigir que eu continue, que eu retome meus afazeres, que eu encontre novos motivos para sorrir, e para querer viver.

“A vida encontra um jeito” (de continuar) para nós, os enlutados. 

Estou achando terrível que eu volte a sorrir depois de planos em parceria que foram rasgados abruptamente, sem uma gota de piedade. Acho injusto que eu volte a sonhar e fazer outros planos. 

— Pensar em um ‘outro alguém' no lugar dele? — acho uma proposta indecente!

Lilly Araújo - 08/08/17

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