Tudo lhe dói
O poeta
nunca pertencerá a um único amor,
porque o
amor está em tudo,
e o poeta
ama tudo e a tudo pertence.
Ele vê tudo,
sente tudo e tudo lhe dói.
Ele é casado
com a lua e amante das estrelas,
Sente-as
todas, a todas ama, num amor que lhe corrói.
O sol lhe
dói os olhos,
a noite lhe
dói os ossos,
e a
madrugada lhe dói a falta de ambos.
O poeta ama
a lagartixa, que de cabeça
para baixo
que não cai do teto.
Aliás, ele
ama e ouve todos os bichos
da floresta,
do cerrado, da caatinga...
Ele repousa
com alma contente
na rede abraçada
a qualquer galho,
seja qual
for o cenário.
O poeta ama
a onça pintada,
a pinta na
cauda do tucunaré,
ele ama ser
rio,
ainda que
seja apenas igarapé.
O poeta é um
ser descontente e dolorido,
Dói-lhe
tudo, e a tudo abraça.
A tudo
agradece e a tudo sorri.
Ele, porém,
nunca está satisfeito,
porque de
tudo tem fome,
e a vastidão
mora em seu peito.
Se no árido,
sente falta da umidade,
se na água,
o seco lhe da saudade.
Se no mar,
ele não se contenta,
quer também
ver a sereia.
Se no raso,
que ver o profundo,
e se
profundo, sente falta da areia.
O poeta é um
ser descomunal,
sente tudo,
a tudo ama e tudo lhe faz mal.
Tudo lhe
dói. E nada lhe basta!
O poeta é
apenas um escravo e mais nada.
Lilly Araújo
30/05/16
*Fernando Coelho é esse poeta descomunal!
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