terça-feira, 18 de setembro de 2018

EM FRENTE À JANELA


EM FRENTE À JANELA

Ou me sento e escrevo,
ou vou fingindo que nada pulsa aqui dentro.
E assim,
vou morrendo de fingir,
apenas para continuar escrevendo.

Continuar e sorrir!
Sorrir todos os risos amarelados
que me ensinaram com tempo.
O tempo de não ser mais criança,
e de aprender a mentir,
e fingir e fingir...

O poeta é mesmo um excelente fingidor!
(Fernando já dizia.)
Ele finge toda a sua dor,
enquanto os outros pensam que ele sorria...

E quando tudo acabar,
quando a dor se extinguir,
quando a vida não mais for,
o poeta terá deixado em forma de versos
toda a sua dor.

Ou eu sento e escrevo,
ou não serei nada.
Nem poeta, nem fingida,
nem amada.

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. ”

E o que me resta,
depois de todas as verdades já escritas,
é me sentar com um cigarro na mão,
olhando a janela que dá em frente à Tabacaria.

Oras, isso também
não é um tipo de alegria?

Lilly Araújo 

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Tema recorrente



TEMA RECORRENTE

Leio poemas de amor.
Leio livros inteiros que só falam de amor.
Por que esse tema me aflige tanto?

Ah, o Amor! (...).
Amar o amor!x
Falar do amor até consumi-lo,
até consumir-me.
E depois, morrer de amor,
e amanhecer novamente
com dores de um amor que não veio,
e chorar o amor não amado,
o beijo não renovado,
e gozo outra vez adiado.

Tenho lido tanto sobre amor,
sem conseguir encontrar o ser amado.
Buscar o que não se sabe,
o impalpável, o incompreensível.
Esse tema recorrente.
(perturbação de minhas sinapses.)

Eu detesto o amor! (Empáfia)
Essa coisa doída que é estar sem colo.
Esse abandono de si mesmo para o insano.
Esse tentar puxar as rédeas de um cavalo xucro.
Mas que rédeas? — Não há rédeas!

E no fim de tudo, só há amor.
Essa coisa toda que toma conta da gente.
Amor e mais amor, e muito amor.
Esse tema persistente.
— Um amor persistente!

Lilly Araújo – 14/09/2018

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