sábado, 19 de agosto de 2017
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
A Doida
A Doida
A Noite passa, noivando.
Caem ondas de luar.
Lá passa a doida cantando
Num suspiro doce e brando
Que mais parece chorar!
Dizem que foi pela morte
D’alguém, que muito lhe quis,
Que endoideceu. Triste sorte!
Que dor tão triste e tão forte!
Como um doido é infeliz!
Desde que ela endoideceu,
(Que triste vida, que mágoa!)
Pobrezinha, olhando o céu,
Chama o noivo que morreu
Com os olhos rasos d’água!
E a noite passa, noivando.
Passa noivando o luar:
“Num suspiro doce e brando,
Pobre doida vai cantando
Que esse teu canto, é chorar!”
- Florbela Espanca-
terça-feira, 8 de agosto de 2017
Proposta indecente
Esses dias estava passando “Jurassic Park”, e me lembrei
de uma ‘máxima’ que ouvi no filme e me marcou: — A vida sempre encontra um
jeito! — disse um dos cientistas, em contraponto a que o fundador do parque afirma
em estar no controle por ter ‘produzido’ apenas dinossauros de um dos sexos (fêmeas,
se não me falha a memória), para evitar assim que se proliferassem
indiscriminadamente.
Hoje, essa frase verdadeiramente me irrita, porque eu penso
que na morte temos um ponto intransponível de dúvidas eternas, uma barreira que
se interpõe sem que tenhamos qualquer escolha entre ir ou ficar, é um rasgo abismal
entre os que morrem e os que vivem, e que nunca é recebido de bom grado. E há
sempre a dor, e a inconformação e o luto. Nós, o que ficamos, passamos de
lágrimas a porquês, sem aviso prévio e nem respostas que amenizem o sofrer.
O que mais tem me indignado no presente momento, é pensar
que, passado algum tempo, quando a ferida ainda está viva, e enquanto ainda posso
chorar e me entristecer sem ser censurada, a vida vai exigir que eu continue,
que eu retome meus afazeres, que eu encontre novos motivos para sorrir, e para
querer viver.
“A vida encontra um jeito” (de continuar) para nós, os
enlutados.
Estou achando terrível que eu volte a sorrir depois de planos
em parceria que foram rasgados abruptamente, sem uma gota de piedade. Acho
injusto que eu volte a sonhar e fazer outros planos.
— Pensar em um ‘outro alguém' no lugar dele? — acho uma
proposta indecente!
Lilly Araújo - 08/08/17
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
Dura certeza

Dura certeza
Choro mais
que as lágrimas conseguem brotar,
e mais que
as hastes possam sustentar
a
desestrutura do agora.
— Por que
choras pobre menina?
Pergunta a
voz do que não ouve.
Choro a
perda irreparável
do cantor
sem sua voz;
do pintor
sem os dedos;
do louco que
se curou,
e não sabe
continuar...
Choro os
dedos extirpados das fiandeiras,
e o pintor
que não tem mais os seus pincéis,
o choro da
bailarina sem seus pés.
Eu choro,
porque agora,
eu sou eu
sem eu mesma,
nessa dura
certeza
que você
jamais!
Lilly Araújo
- 07/08/17
Assinar:
Postagens (Atom)